quarta-feira, 2 de maio de 2012

Jalapão - TO

Paraíso ecológico no meio do cerrado, o Jalapão fica no Estado do Tocantins a 180km de Palmas. Com uma área de 34 mil quilômetros, envolve 8 municípios. São eles: Lagoa do Tocantins, Novo Acordo, Rio do Sono, Lizarda, Mateiros, Ponte Alta, Santa Tereza e São Félix.


A aventura começou quando aterrissei em Palmas. Cidade esta que lembra muito nossa capital do país. O aeroporto da cidade fica bastante longe de tudo. Mais ou menos uns 20km para começar a ver a cidade, de fato.

Fiquei hospedada no Hotel Araguaia que tem um excelente atendimento, ótimo café da manhã e comodidades bastante honestas para o custo benefício.

Para a saga ao Jalapão fechei um pacote com a empresa Eldourado que fez o traslado de ida e volta ao aeroporto, todo o roteiro no parque e já continha também hospedagem e alimentação no Jalapão.

Existem dezenas de empresas que fazem este passeio e vale a pena pesquisar pois a diferença de preços é grande. Sem dúvida alguma para os que possuem carro 4x4 o melhor de tudo é fazer o roteiro sozinho. A sinalização não é das melhores do mundo mas certamente da para se virar e economizar bastante.

Mas vamos ao o que interessa. As 08h00 saí do hotel e peguei a estrada. Primeira parada foi em Ponte Alta para abastecimento e a partir daí rumo ao primeiro ponto atrativo do Jalapão.

A título de curiosidade, dizem que o nome Jalapão vem de uma erva chamada Jalapa e por ser muito amarga as pessoas ingerem com o pão.


Cânion Suçuapara - surpreendentes paredões com enormes samambaias que formam escorredores de água por uma pequena trilha. O acesso é fácil mas vá preparado para molhar os pés. Uma pequena fenda deixa o sol entrar e formar um cenário único.


Próxima parada..., bem, dizem que esta casa era de Pablo Escobar. Hoje em dia está abandonada. Já tentaram fazer do local uma pousada mas continua sem nada e ninguém. Na verdade apenas um caseiro que cuida do local e cobra a entrada para a espetacular Cachoeira da Velha.


O carro fica parado um pouquinho mais adiante e de lá pega-se uma pequena trilha até ao deck que faz a ligação a cachoeira que é também conhecida como miniatura das cataratas do Iguaçu.


O que impressiona bastante é a falta de estrutura que ainda existe nestes pontos turísticos. Não existe uma barraquinha se quer de nada. Leve algo ou terá que beber água da cachoeira. É super aconselhável que durante todo o trajeto no parque tenha-se um cooler com alimentos tipo sanduíches naturais, frutas, água e isotônico, além da barrinhas de cereais, pois até encontrar um ponto de alimentação pode demorar bastante.


Deste ponto existe uma trilha que chega a prainha da cachoeira (Rio Novo), uma hora de caminhada, porém existe também um caminho de acesso com o carro onde parei para fazer um lanche embaixo de gigantescas árvores e logo abaixo a Prainha.




Por fim, no primeiro dia desta expedição, fui rumo as famosas dunas para ver o pôr do sol neste lugar incrível no meio do cerrado.


E dá-lhe estrada. Aliás como pode ver, a estrada inteira é assim, de barro com bastante cascalho e várias erosões no meio do caminho o que otimiza bastante o acesso pois qualquer carro ou moto consegue percorrer este trajeto. O problema fica na entrada das estradas para os atrativos, aí amigo, só de 4x4 mesmo.

Voltando as famosas Dunas do Jalapão o cenário é realmente fantástico porque o processo de erosão natural da Serra do Espírito Santo é que forma esta Duna de cor laranja, devido aos paredões de arenito, com 30 metros de altura.


A trilha de acesso também é bem tranquila. Atravessa-se um riacho de águas cristalinas e logo após vem a subida, que é feita por um único caminho para evitar que a areia sofra depreciações.


Já era noite quando peguei estrada novamente rumo a cidade de Mateiros aonde fiquei hospedada na Pousada Buritis do Jalapão. Tudo muito simples mas bem limpo e com o básico. Suítes com tv e ar condicionado. O café da manhã poderia ser melhor, mas deu para enganar.

No outro dia as 09h00 saí em direção a comunidade Mumbuca, onde vendem artesanatos dos mais variados tipos, todos feitos com o capim dourado.


Mumbuca é uma grande família da miscigenação de negros e índios. A senhora ao centro da foto é Dona Miúda, já falecida. Foi a precursora do capim dourado. Esta tradição é passada de geração em geração além também do trabalho com a palha do buriti, que serve para tecer os produtos.


Daqui fui ao atrativo mais curioso da região, o Fervedouro. Cercado por bananeiras, bem no meio deste poço existe uma nascente de um rio subterrâneo. Isso faz com que a água que brota da areia crie um fenômeno que é simplesmente impossível de afundar.


A sensação é muuuuuuuito estranha. Não existe ponto de apoio, suas pernas ficam submersas mas sem encostar em lugar nenhum e você não consegue afundar - é sensacional. Ouvi dizer que existem oito desses pelo Jalapão, mas infelizmente só passei por este.

Depois de me acabar neste estranho "buraco" fui almoçar no Camping do Vicente, aliás o único local que existe nesta região. Seu Vicente é uma figura que vive no Jalapão a 14 anos e tem muita história para contar.


Não espere nenhum almoço maravilhoso e nem apareça sem reservar que ele literalmente põe pra correr. O menu foi, arroz, feijão, carne de panela e salada de tomate e cenoura, no estilo, sirva-se a vontade na panela em cima do fogão - R$ 20,00 por pessoa.


Pausa de 30 minutinhos e bora para estrada que tem mais diversão pela frente. Alguns quilômetros e cheguei ao paraíso. Posso afirmar que das dezenas de cachoeiras que já conheço, a Cachoeira do Formiga é disparada a mais encantadora de todas.


A queda d'água é pequena, mas o espetáculo fica por conta da piscina que se forma de cor verde esmeralda, efeito das areias calcárias e vegetação exuberante. A minha vontade foi de viver aqui para sempre.


A visibilidade embaixo d'água é algo que jamais havia presenciado em uma cachoeira. Pense em uma pessoa feliz que pulou muitas vezes e nadou a tarde inteira!!! :D Só fui embora junto com o sol.


Após este "exaustivo" dia de prazer, rumo a estrada novamente para ir jantar no restaurante/camping Beira da Mata do super simpático Sr Emivaldo, popularmente conhecido como Fei Véi.


O local é bem escondido mas tem placas indicando o caminho desde o centro de Mateiros. Sr Emivaldo é super receptivo e adora contar todas as histórias do Jalapão. Ele participou como chef de cozinha no reality show Survivor e fez no seu camping uma casinha com vários objetos do programa. Além disso é guia também e com certeza recomedo-o para quem estiver passeando por lá. Ah! E claro, cozinha muito bem. Após jantar, hora de dormir que amanhã o dia começa cedo - muito cedo.


Saí da pousada 05h00 ainda escuro para chegar ao pé da Serra do Espírito Santo as 06h00 e então inciar a subida de 900 metros até o mirante.


Existem cinco paradas estratégicas para descanso para contemplar o visual deslumbrante e o silêncio absoluto. Só se escuta o vento, os pássaros e o Rio Novo que passa bem distante dali.


Demorei uma hora e meia para subir com várias pausas mas cheguei lá :)
A descida foi super tranquila, mas bastante perigosa pois existem muitas pedras soltas. Atrativo obrigatório para quem visita o Jalapão - cansa, mas vale muito a pena.


A flora e a fauna do Jalapão são bastante peculiares e por todos esses caminhos percorridos consegui registrar algumas cenas.


Voltei a Mateiros para o almoço e quando foi 13h00 peguei a estrada para começar o trajeto de volta a Palmas.


Eis que no meio do caminho surge a Serra da Catedral. Este ponto ainda não é explorado, não existe trilha para a serra e só parei para tirar algumas fotos na estrada.


Viagem que segue e o último ponto de parada foi o Morro Vermelho. Também conhecido como Morro do Gorgulho ou Morro dos Macacos. No local existe uma barraquinha para tomar algo gelado e comer um doce de buriti.


E assim termina essa viagem inesquecível de muitas belezas, muitas picadas de mutuca, muita areia e muitos sorrisos.

"Há um lugar longínquo

Onde o sol no mês de agosto

Em realeza posto

Cintila qual única jóia

Em dunas que o vento apóia

Vem o som do silencio invadir
Entre águas cristalinas eclodir
Do miolo da terra virgem
E como braços maternos cingem
O visitante que admirado pisa
E onde seu olhar incrédulo desliza 
A imagem da serra qual sentinela
Se impondo qual obra mais bela
Desse lugar lindo e puro
Onde mesmo o cascalho duro
Emoldura as árvores do sertão
Que alimenta a tantos com seu pão
Ali também pari o capim dourado
Ouro dessa terra encontrado
Que vira arte na mão do artesão
Do leigo arranca admiração
Que frutifica de um branco botão
Tantas cachoeiras de sons musicais
Que como transparentes cristais
Derramam águas ladeadas de jardins
Abrigando a vida nestes confins
Recebendo seus bichos felizes
Neste lar rico em matizes
Apenas restam-me as lembranças 
De um paraíso de bonanças
De doces frutos catados no mato
Das flores que embriagam o olfato
Do céu estrelado qual abrigo
Nas noites mornas sem perigo
Um lugar no coração de meu país
Em simplicidade ensina a ser feliz
Onde o verdadeiro contentamento
Nasce a todo momento
No olhar que suprime a respiração
Eclode em grande admiração
Quando a retina traduz o Jalapão"

(Branca)